2.8.07

Mitos e lendas, vol. I: "A cruz de Osterberg"

Pobre dínamo ensangüentado, I feel alright apesar da auto-flagelação e da reprovação dos filisteus, ou seria por causa de?, no confronto, na provocação, na negação da negação, no vivo sangue que escorre e reflete as poucas luzes, absorve todas as luzes, faz brilhar impossivelmente este pobre dínamo ensangüentado que se move mais e mais depressa, perde o controle das pernas, dobra os joelhos desafiando a anatomia até que finalmente implode sob si próprio, I feel alright, I feel alright!, e então os ruídos cessam, a escuridão afrouxa, o pobre dínamo ensangüentado e esgotado é arrastado para fora com a ajuda de uns poucos companheiros enquanto os filisteus se alternam entre a raiva e a incertidão, e não percebem que acabaram de testemunhar um mártir, um salvador, um escolhido, um messias, um gênio, um louco que lhes trazia uma verdade, uma destas raridades que os homens eternamente procuram mas raramente encontram, e que é próprio dos filisteus pensar já tê-las quando na verdade não poderiam estar mais longe. Mas amanhã as chagas já estarão curadas, e novas serão abertas, porque é assim que estas coisas são, e afinal haverá quem compreenda tudo aquilo, I feel alright, o sangue, o ruído, a dança de São Vito, e haverá quem reconheça nisto a verdade que arrebenta as paredes, e então estes também se sentirão bem, e haverá entendimento, e tudo estará em ordem e tudo correrá melhor, ainda que em meio ao sangue e ao suor, pois é assim que estas coisas são.

(Los Angeles, 1970.)

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